
“Não podemos ficar estáticos”
O novo presidente da PPSA, Ibsen Flores Lima, conversou com a Brasil Energia Petróleo e falou sobre os desafios da empresa
A PPSA, criada em 2013 para ser os olhos da União na produção do pré-sal, começa 2017 se preparando para a abertura do mercado implementada com o fim da operação única, a comercalização do petróleo da União e novos desafios de gestão. Ibsen Flores Lima, o novo presidente da estatal, recebeu a Brasil Energia Petróleo na sede da empresa, no Rio de Janeiro, e se mostrou otimista para o leilão de áreas unitizáveis, que vai ocorrer no segundo semestre. “Vejo com otimismo, porque o pré-sal brasileiro tem baixo risco geológico”, diz. Lima defende também o diálogo para que a questão do waiver seja resolvida de forma produtiva para todos os lados. “Acho que nem tanto à terra, nem tanto ao céu”, comentou.
Quais serão, na sua avaliação, os principais desafios da sua gestão?
Qualquer trabalho desse porte é sempre desafiador. A gestão não é minha, temos uma diretoria colegiada. O governo, na escolha, foi muito feliz em manter duas pessoas que já participavam da alta administração da companhia, trazendo duas pessoas novas: eu e o Leandro [NR: Leandro Leme Júnior, diretor de Administração]. Isso vai dar um bom tempero. A gente vai poder ter continuidade nos trabalhos.
Então, tudo continua como dantes?
Somos pessoas diferentes das da gestão anterior, e por isso teremos um estilo diferente de gestão. Teremos também novas atividades no ano que vem, como a comercialização do petróleo da União na partilha da produção. Esse é um trabalho novo que será iniciado na nossa gestão.
A PPSA foi criada para operar em um modelo de operador único. O que muda com a flexibilização ou isso não impacta o dia a dia?
Em princípio não muda, porque continuaremos a ser os gestores do contrato de partilha, seja Petrobras ou outra empresa. Na verdade, a PPSA já vinha trabalhando com outras empresas nos acordos de unitização. Vai haver uma expansão das atividades.
Com o fim da operação única, a PPSA pode, em alguns casos, ser o representante único da União em alguns contratos. Ela está pronta?
De fato, no caso de haver um outro operador, a PPSA poderá ser o único agente de governo representante do Estado no consórcio. Poderá ser, não necessariamente, porque a Petrobras pode participar também. Isso aumenta muito a responsabilidade da PPSA em relação ao consórcio, mas a forma de atuar, a defesa dos interesses da União nos consórcios, isso permanecerá o mesmo.
Com ficaria o projeto de Libra sem o waiver?
O waiver é uma decisão da ANP. Se a ANP não der o waiver, a Petrobras vai ter de trabalhar sem o waiver, pagando as multas. Não tem outra forma. Mas essa questão do conteúdo local é uma questão controversa, que suscita muitas paixões. Acho que vai ser preciso haver um entendimento. Quando esse contrato foi feito há três anos, havia um cenário diferente na indústria do petróleo no Brasil. O pedido de waiver do FPSO é motivado por conta de uma indústria naval que não teve desempenho conforme o previsto lá atrás. Quando se fez a tabela de Libra, se previa todas as sondas da Sete Brasil, se previa uma indústria naval com vários estaleiros pela costa do país. O que vai acontecer é uma reavaliação do cenário da indústria naval hoje e suas possibilidades. Acho que nem tanto à terra, nem tanto ao céu.
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A nova diretoria da PPSA (Antonio Pinheiro)
E o que deve ser feito para que o o projeto se mantenha no prazo?
O conteúdo local não deve ser o previsto no contrato, porque se percebe hoje que não é possível trabalhar com ele e manter o prazo. Mas também não deve ser um conteúdo local zero, porque a indústria está aí e parte dela está operacional e é competitiva. Tem de haver entendimento entre os diversos atores desse processo, a Petrobras, como operadora, a ANP, como reguladora, e a indústria, mostrando que é competitiva e o que é capaz de fazer… não aqueles 59% de conteúdo local, mas o que é possível. Não sei qual é esse número. Isso está sendo discutido agora, calculado tecnicamente. Não acho que teremos um impasse. Chegaremos a um número que seja possível, mas a preços competitivos também.
Há outro caminho crítico em Libra que necessite de waiver?
Não vejo desafios em outros segmentos. O grande desafio é a indústria naval, na parte do casco. A tabela contempla um percentual alto de conteúdo local no casco.
O sr. pretende montar uma equipe própria?
A equipe da PPSA continuará a equipe que temos, com 30 profissionais trabalhando aqui. Nosso papel é exercer a direção. Não vai haver uma nova equipe neste momento.
A possível criação de um calendário de leilões de longo prazo impacta o dia a dia da PPSA?
Nossa programação de longo prazo será, exatamente, em função desse calendário. Vai mudar bastante. À medida que a gente tiver um horizonte de novos leilões, teremos de preparar e robustecer a equipe em todos os aspectos. Os 30 empregados de hoje não vão ser capazes de gerenciar dez contratos de partilha. Isso aí seria impossível.
O calendário então facilitaria o dia a dia da empresa?
Vai facilitar. Na hora que tivermos um horizonte de perspectiva de crescimento de trabalho vamos rever todo o nosso planejamento operacional, para que a gente consiga desempenhar a função.
A PPSA indicará sugestões de mudanças para os novos contratos de partilha do próximo leilão? O que esperar desses novos contratos?
A ANP já recebeu diversas sugestões da indústria, através do IBP e diretamente das operadoras, e recebeu também sugestões da PPSA, em função da experiência que temos com a gestão do contrato de Libra, e de outros atores do governo e do MME. A ANP está digerindo todas as informações e, certamente, teremos um processo aprimorado.
Esses contratos das áreas unitizáveis serão diferentes de Libra?
Não sei dizer ainda. Devem ser um pouco diferentes, mas quão diferentes e como diferentes não posso dizer, porque não temos essa informação.
Como o sr. acha que as empresas irão reagir ao leilão das áreas unitizáveis? O sr. acredita que haverá concorrência?
Vejo com otimismo, porque o pré-sal brasileiro tem baixo risco geológico e isso já é um atrativo, um bom diferencial. A produção já existente mostra uma alta produtividade dos poços e isso diminui muito os custos. O Brasil tem regras claras e certa credibilidade nesse aspecto. Então, acho que vai ser bem atrativo. Tivemos uma experiência agora, bem recente, que foi o sucesso do bid no México.
O governo fez o dever de casa para esse bid ser bem recebido pelo mercado?
Sem dúvida. A própria lei que flexibiliza o operador único no pré-sal já é um grande atrativo nisso.
A instabilidade de regras, como o que vem acontecendo no Rio de Janeiro, não assusta o investidor?
Pode ser, mas de maneira geral o Brasil tem uma tradição de respeitar as regras dos contratos. Essas questões são conjunturais e serão superadas com o tempo. As empresas estão interessadas em aumentar sua participação no Brasil, a despeito de um ou outro inconveniente que todos os países têm. Vimos isso com a venda de Carcará [NR: A Statoil pagou recentemente US$ 1,25 bilhão por 66% do bloco BM-S-8, operado pela Petrobras na Bacia de Santos].
A PPSA aposta mais em uma participação mais forte de empresas ou de consórcios neste leilão?
O consórcio diminui o risco. Vejo como tendência a formação de mais consórcios para apostar nos leilões.
Como está a saúde financeira da PPSA hoje?
A questão financeira está equacionada. A PPSA tem um contrato de remuneração com o MME. Essa remuneração preenche nossos custos operacionais correntes. Em 2016, recebemos mais uma parcela do aporte de capital total do governo, que soma no R$ 50 milhões, e ainda temos uma parcela a receber em 2017, no valor de R$ 12 milhões.
O sr. confia que haverá retomada do setor petróleo em 2017?
Está tudo sendo feito para isso. Espera-se uma reativação da indústria a partir das iniciativas que estão sendo tomadas, como a flexibilização da operação única e a realização de novos leilões. A indústria do petróleo pode ser um alavancador do desenvolvimento do país, porque o efeito multiplicador da nossa indústria é muito rápido. É um setor que tem penetração em diversos outros setores da economia.
O sr. acha que o setor consegue caminhar e crescer, mesmo com a crise política em paralelo?
Ele está indo, não é? Mesmo com essa crise, as ações do governo no setor estão caminhando nesse sentido. Então, já está caminhando.
A flexibilização da operação única era necessária?
É boa no sentido de aumentar a atratividade da indústria para o Brasil. Acho que é sem dúvida uma boa medida para a Petrobras também, porque dá à companhia o direito de preferência, podendo gerenciar melhor seu portfólio. Como estava antes, a Petrobras não podia gerenciar seu portfólio, pois estava obrigada, por força da lei, a participar de projetos dos quais eventualmente não participaria. Ela fica com liberdade para gerenciar seu portfólio e tomar as melhores decisões do ponto de vista da empresa. Foi bom para todos e ganhamos possibilidade de investimento, não dependendo só do fôlego da Petrobras. Tudo tem seu momento. O momento em que foi decidido ter a Petrobras como operador único foi outro. Hoje temos um momento diferente. A reavaliação de todos os cenários políticos e econômicos, o nacional e o internacional, leva a uma mudança. Não podemos ficar estáticos diante das coisas. Foi bom para aquele momento e, agora, essas decisões são boas para este novo momento. É preciso evoluir sempre. Sou partidário da melhoria contínua. Gestão é isso.
28.12.2016 – Por Cláudia Siqueira e Felipe Maciel
Fonte: Brasil Energia Petróleo